segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"...Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi.
E voltei a ser uma pessoa que nunca fui.
Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar.Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar... "

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Acho tao lindo esse texto...

Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável.
Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa.

.Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.
Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado?

.Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo esse tempo?

.Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho.

.Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres.

.Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Já viu alguém e soube que se aquela pessoa realmente conhecesse você teria, bem, teria é claro se livrado do modelo perfeito com quem estava, e se daria conta de que você é a pessoa com quem queria envelhecer?"

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

qualquer semelhança...

NÃO USE O FILHO COMO DESCULPA


Fabrício Carpinejar



Ser mãe é a possibilidade de experimentar em dobro a mesma vida, é voltar para a infância não sendo mais criança, voltar para a adolescência não sendo mais adolescente. Quem já não teve o sonho de repetir o passado? Mãe aperfeiçoa seu desejo e até melhora a memória que julgava encerrada.

Todos sabem que uma vez o corpo habitado, o ventre povoado, o amor faz cidade. Mas não vou falar do barulho bom da chuva nas calhas. Talvez tenha que cuidar das infiltrações pela casa.

Vou direto ao ponto: maternidade não pode servir como desculpa. Muito menos como perdão para não correr riscos.

Minha mãe argumentava que não casou novamente para cuidar dos filhos. Ela se separou aos 40 anos, na efervescência da idade. Pretendentes batiam à porta com serenatas, flores e bombons, recorrendo a cortejos desesperados. Eu atendia a campainha com pena da performance em vão dos seus apaixonados.

Juro que não merecia receber essa culpa. Ela avisava que os filhos eram ciumentos e não admitiriam um segundo casamento - nunca testou a tese. Cansei de ouvir que não desfrutava de condições de sair à noite para cuidar da prole... já adulta. Transferia a decisão para os nossos ombros.

Não deve ser sadio para um filho carregar o estigma de que demitiu sua mãe do futuro amoroso. De que é o responsável por complicar seus relacionamentos e adiar namoros e viagens.

Estou exagerando?

Tenho uma amiga linda, jovem e profissional reconhecida, que aceita os convites para festas, cafés e jantares com facilidade. Estranho sua rapidez afirmativa. Quem diz sim no aceno dirá não com um longo aperto de mão.

No momento que é convidada, responde com entusiasmo de acampamento de escola. Solta um viva, um urra, um não acredito impregnado de presságios. Parece que estava esperando ansiosamente o chamado.

Pena que desmarca na última hora com um telefonema sussurado, constrangido e pesado de juras por uma próxima chance. Entendo o que passa em seu assoalho, aceita de pronto e demora semanas sondando uma maneira de cancelar o encontro e não ferir expectativas. Sempre vai ferir seu orgulho.

A desculpa dela é igual há 14 anos, desde que seu filho nasceu: Theo tem alguma coisa que a impede de se divertir, ou uma doença, ou não há com quem ficar ou tem aniversário ou está mal na escola. Foram centenas de motivos, dos tradicionais aos mais irreverentes. Acredito que ela perde mais tempo elaborando justificativas do que se comparecesse aos compromissos.

Theo pouco prevê que paga a conta pelos cancelamentos sucessivos de sua mãe. Muitos imaginados e inventados, longe da realidade. Ela o cria com perfeição, o problema é que se esconde na maternidade para não criar a si mesma.

Maternidade não é renúncia, é aceitação de que o filho não é tudo, não é um fim, é o nosso recomeço.